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Feique - Em algum lugar, porém, aqui

2005 • 60 minutos

Feique - em algum lugar, porém, aqui é o nome do novo espetáculo da Verve Companhia de Dança. Seis intérpretes, sendo cinco bailarinos e um músico, se relacionam em cena produzindo a estrutura dramática da obra, construindo personagens que trafegam em uma linha tênue de contrastes físicos e psicológicos.

Embalados por música especialmente composta para a obra e com performance ao vivo, desenham no palco uma estrutura de vigor físico através da dança contemporânea, contaminada de linguagem mista, presente em outros trabalhos da Companhia.

Vídeos apóiam a coreografia em determinados momentos e são projetados em um paredão, onde personagens utilizam a própria imagem gravada para criar um aspecto de ilusão. Isto propicia a noção de tempo onde o real e o imaginário se fundem, onde se apropriar da palavra “Fake” e transforma-la em “Feique”, possibilita ao espectador questionar a realidade que está se propondo.

O espetáculo discute, ora com olhar crítico, ora com pura ironia, signos que trazem a tona questões como morte, banalidade, diferenças, dependência física e psicológica, entre outras.

“Feique” foi construído para discutir aspectos de personagens retirados do cotidiano brasileiro. Sua virtude é ter em sua estrutura coreográfica e gramática corporal signos da brasilidade. A maneira de perceber do brasileiro, sua grande habilidade de se adaptar aos contrastes sociais, o bom humor e inteligência em lidar com dificuldades do dia a dia e resume certamente a linguagem desta Companhia que tem 10 anos e que já faz parte da história da dança do País.

O espaço

Feique se realiza em um espaço onde tudo se passa fora, como numa rua. Um muro formado por uma estrutura vertical se alonga, quase dividindo o palco ao meio, forçando os intérpretes a ocuparem somente a área livre, o que sobra, o que é permitido. O tom sépia predomina em quase todos os objetos, parede, bancos, mesa, e cria um espaço psicológico que nos remete a lembranças, porém, acontecidas aos nossos olhos em tempo real, em algum lugar.

O conceito

O diretor Fernando Nunes, que concebeu o espetáculo, diz que Feique é um nome baseado, percebido da língua inglesa, Fake – falso. Nossas experiências se acumulam desde a infância, produzindo no cérebro memórias que calibram nossas diferentes percepções do mundo. Estas diferenças tornam o indivíduo único, com variações psicológicas únicas. Somos o resultado de percepções multifacetadas, colhidas através dos cinco sentidos em fração de segundos. Estas informações entram fragmentadas e são compartilhadas através das conexões cerebrais, construindo uma idéia de todo, uma idéia de Eu, uma imagem virtual de mundo. “Um mundo Feique”, finaliza.

O processo de trabalho

A pesquisa e concepção de Feique formaram-se a partir de improvisações e foram evoluindo no processo de trabalho. Constituíram-se células de construções dramáticas que possibilitaram os primeiros sedimentos, os quais foram chamados de frases. Há momentos que iniciaram concretos, com personagens definidos, que foram transformando-se em versões abstratas sem perder seu conteúdo e objetivo original. As frases que amadureceram e se tornaram evidentes foram repetidas e novamente alimentadas até se tornarem parágrafos. Estes parágrafos foram sendo re-elaborados e aprofundados para se tornarem capítulos. Consideram-se capítulos neste processo de trabalho, uma etapa de maturidade de todo processo de pesquisa, resultado de variações mecânicas e psicológicas, que se transformaram em coreografias, onde começo, meio e fim são constantemente colocados em avaliação. Feique está se fazendo de frases, parágrafos e capítulos. A estrutura não-linear e fragmentada possibilitará ao público complementar as informações da leitura da obra com seu próprio background, sem perder a idéia central da estrutura poética.